Definição
O câncer primário de pulmão é o câncer que acomete a traqueia, os brônquios ou o tecido pulmonar (alvéolos). As células anormais são provenientes de traqueia, brônquios e alvéolos, e não células provenientes de outros órgãos (no caso de as células malignas migrarem de outros órgãos para o pulmão, o câncer de pulmão é secundário ou metastático). Existem dois principais tipos de câncer de pulmão primário: o câncer de pulmão de pequenas células e o câncer de pulmão não pequenas células. Existem diferentes tipos de câncer não pequenas células. Cada tipo difere em relação ao crescimento e comportamento biológico. Os tumores mais frequentes não pequenas células são o carcinoma epidermoide, o carcinoma de células grandes e o adenocarcinoma. Existem dois tipos principais de câncer de pulmão de pequenas células. São eles o tipo pequenas células (oat cellem inglês) e o tipo combinado. Em geral, nos países desenvolvidos, cerca de 85% dos casos de câncer de pulmão são não pequenas células e 15% de pequenas células.
O câncer de pulmão está entre os tipos de câncer mais frequentes em todo o mundo e representa a principal causa de morte por câncer, tanto em homens quanto em mulheres. A incidência é geralmente maior entre homens, da magnitude de 2 a 9 vezes.
Entretanto, a incidência vem aumentando entre mulheres, enquanto se mantém estável entre homens, o que reflete o crescente hábito de fumar entre mulheres. Estima-se que mais de 1 milhão de pessoas morram de câncer de pulmão a cada ano e, exceto surjam medidas eficazes de prevenção, são projetadas mais de 2,2 milhões de mortes-ano para o ano de 2030.
A importância do controle do tabagismo e das campanhas de controle de câncer é óbvia e estas são fontes crescentes de investimentos em pesquisa.
No Brasil, foram estimados 17810 novos casos entre homens e 9460 casos entre mulheres em 2008.
Esses valores correspondem a um risco estimado de 19 casos novos a cada 100 mil homens e de 10 para cada 100 mil mulheres.
O tabagismo está envolvido em 80% a 90% dos casos de câncer de pulmão. O risco estimado é maior entre tabagistas em relação àqueles que não fumam. Quanto maior a quantidade de cigarros fumados por dia e a quantidade de anos fumando, maior o risco. O risco entre fumantes é 20 vezes maior em relação aos não fumantes. Estima-se que 25% dos casos de câncer de pulmão entre não fumantes estejam relacionados ao tabagismo passivo.
Outros fatores de risco são a exposição ambiental ou ocupacional ao gás radônio (proveniente do solo ou de minas de urânio), a exposição ocupacional ao asbesto e à sílica, a poluição do ar, a história familiar de câncer de pulmão e a radioterapia para outros cânceres.
Os sintomas mais frequentes do câncer de pulmão são tosse persistente e hemoptise (escarro com sangue). Além destes, dor persistente no peito ou no ombro, perda de peso ou apetite, fadiga, pneumonia de repetição e falta de ar podem estar presentes.
Eventualmente, o câncer de pulmão pode ser descoberto incidentalmente a partir de exames de imagem solicitados em pacientes assintomáticos ou como parte de investigação para outras doenças.
Após a coleta de informações clínicas em indivíduos com sinais e sintomas suspeitos, em geral solicitam-se alguns exames complementares, como os de imagem (raios-x e tomografia computadorizada) e broncoscopia (visualização direta de traqueia e brônquios). Um fragmento do tumor é retirado para exame (biópsia). Para se estabelecer o diagnóstico de câncer de pulmão, é necessária a confirmação pelo patologista. Ele vai examinar o material coletado do paciente ao microscópio à procura de células malignas compatíveis com o diagnóstico. O material poderá ser o escarro (quando possível), lavado, aspirado, ou a biópsia do pulmão, coletados através de endoscopia pulmonar (broncoscopia), punção pulmonar direta com agulha fina e cirurgia.
Além de dar o diagnóstico de câncer de pulmão, o patologista fornece outra informação valiosa para o médico assistente: o tipo de câncer de pulmão. Essa diferenciação é essencial, pois o tratamento é diferente para os dois principais tipos de câncer de pulmão (pequenas células e não pequenas células). Alguns cânceres de pulmão possuem mutações específicas em seus genes que podem ser identificadas por testes genéticos. Essas informações podem ajudar a escolha do melhor tratamento.
Após o diagnóstico e a classificação do câncer de pulmão, o médico assistente avalia o estadiamento da doença, ou seja, verifica a extensão da doença. Para isso, geralmente são solicitados exames complementares, como exames laboratoriais e exames de imagem direcionados ao tórax, abdome e, eventualmente, crânio e aos ossos. O objetivo desses exames é determinar a extensão da doença e, assim, selecionar o tratamento ideal para aquele determinado paciente. Para o câncer de pulmão não pequenas células, o sistema de estadiamento utilizado é o sistema TNM (tumor, linfonodo e metástase). Os tumores são classificados entre estágios de I e IV e graus histológicos de 1 a 4. Quanto maior o estadiamento e grau histológico, pior o prognóstico. O câncer de pulmão de pequenas células tem um sistema de estadiamento mais simples. Ele é classificado como “doença limitada” ou “doença extensa”. Doença limitada possui melhor prognóstico em comparação com doença extensa.
Os pilares do tratamento do câncer de pulmão são a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia. É fundamental para isso a integração entre o cirurgião torácico, o oncologista e o radioterapeuta, com a finalidade de determinar a melhor opção terapêutica e evitar procedimentos desnecessários. A terapia-alvo molecular é uma nova estratégia que representa um avanço importante no tratamento dos pacientes com câncer de pulmão. Trata-se de medicamentos, oferecidos por via intravenosa ou em formato de comprimidos, utilizados como complemento à quimioterapia, os quais, em algumas ocasiões, podem substituir a quimioterapia tradicional.
O prognóstico do câncer de pulmão dependerá da extensão da doença ao diagnóstico e da presença de comorbidades, ou seja, doenças associadas. O crescente aprimoramento das técnicas cirúrgicas e o advento do tratamento com quimioterapia são medidas que aumentam a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes. O conhecimento da biologia molecular dos tumores também trouxe ganho, uma vez que hoje dispomos de terapias-alvo, com drogas inteligentes, direcionadas contra o tumor, que poupam os pacientes dos efeitos adversos da quimioterapia. Além disso, a radioterapia ganhou destaque no tratamento desses pacientes, sendo uma possibilidade de controle da doença em situações em que a cirurgia pouco pode ajudar. A sobrevida em cinco anos para os tumores não pequenas células varia conforme o estadiamento da doença, o tipo e grau histológico. Quanto menor o estadiamento, melhores o prognóstico e a sobrevida. O prognóstico dos tumores de pequenas células é pior em comparação com os cânceres não pequenas células.
O câncer de pulmão representa a neoplasia com maior potencial de prevenção, haja vista sua relação intrínseca com o tabagismo. As campanhas voltadas a reduzir a incidência de fumantes, principalmente entre mulheres e jovens, são prioritárias e merecem forte apoio da população.
Apenas um grande estudo randomizado (seleção aleatória dos grupos) em fumantes “pesados” entre 55 e 74 anos nos EUA, utilizando tomografia computadorizada de baixa dose como exame de rastreamento, mostrou redução na mortalidade por câncer (16%) e mortalidade geral (7%). Nesse estudo, o percentual de exames falso-positivos (exame anormal, porém sem confirmação de câncer) foi muito grande.