O câncer é a principal causa de morte e incapacidade no mundo, afetando cerca de 14 milhões de pessoas por ano segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A maior proporção dos efeitos do câncer nas populações ocorre nos países de baixa e média renda onde 57% dos casos e 65% das mortes acontecem. Em 2012, ocorreram 4,3 milhões de mortes prematuras por câncer no mundo, e é esperado um aumento de 44% das mortes prematuras por câncer de 2012 para 2030.
A prevenção do câncer, tradicionalmente, significa as ações voltadas para reduzir ou abolir a exposição aos fatores de risco que promovem o aparecimento do câncer. Ela é considerada a melhor estratégia de longo prazo para o controle do câncer. As ações de prevenção do câncer reduzem tanto a incidência (casos novos) como a mortalidade do câncer.
Durante décadas os resultados das pesquisas básicas, clínicas e epidemiológicas forneceram as bases para as abordagens médicas (medicamentos e vacinas) e comportamentais (mudanças nos hábitos de vida) para a prevenção do câncer. Para o século que se inicia, as perspectivas são de avanço na biologia molecular e imunologia com o objetivo de mapear e bloquear os processos de iniciação e desenvolvimento do câncer e com isso avançar no controle do câncer.
A estratégia tradicional de prevenção do câncer consiste em diminuir ou abolir fatores de risco para o câncer como o tabaco, o álcool, exposição excessiva à radiação UV, determinados alimentos e nutrientes como, por exemplo, os alimentos processados e superprocessados, além de manter o peso ideal e uma atividade física regular.
Nas últimas três décadas houve um aumento dos estudos sobre prevenção do câncer utilizando medicamentos que bloqueiam ou revertem o desenvolvimento do câncer em tecidos normais ou pré-malignos. Esta abordagem é chamada de quimioprevenção e incluem agentes como aspirina, moduladores seletivos do receptor de estrogênio (tamoxifeno e raloxifeno), finasterida, metformina, entre outros. Também fazem parte deste grupo os componentes biologicamente ativos dos alimentos funcionais como isoflavonas, licopeno, resveratrol e ômega 3.
Algumas vacinas já vêm sendo utilizadas para prevenir o câncer. Em particular as vacinas para prevenir o câncer de fígado (vírus da hepatite B) e câncer do colo do útero (vírus do papiloma humano). Estima-se que utilização da vacina contra o vírus da hepatite B em indivíduos de alto risco tenha contribuído para diminuir em 70% os casos de câncer de fígado relacionados ao vírus da hepatite B. Quase 100% dos cânceres do colo do útero e cerca de 90% dos cânceres de ânus estão relacionados a subtipos de vírus do papiloma humano (HPV) de alto risco. A expectativa é que a vacina obtenha reduções na incidência do câncer do colo do útero em longo prazo. A previsão é que nas próximas décadas aconteçam novos avanços, em especial na produção e testagem de vacinas contra o melanoma e câncer de mama.
As perspectivas são ótimas, mas é preciso que a população tenha acesso às informações relevantes, em particular sobre os potenciais benefícios e os eventos adversos das diferentes intervenções, para que as pessoas possam tomar uma decisão consciente e informada sobre sua saúde.
Dr. Ronaldo Silva – Sanitarista do Grupo COI