Definição
O mieloma múltiplo é um tipo de câncer ocasionado pelo crescimento anormal de um determinado tipo de célula chamado plasmócito, encontrado na medula dos ossos. Os plasmócitos são células que compõem nosso sistema imunológico e produzem anticorpos contra infecções e algumas outras doenças. Os plasmócitos anormais são chamados de mielomas e produzidos em grande número e em locais diferentes da medula óssea, por isso a denominação de mieloma múltiplo. O crescimento das células pode provocar o aparecimento de um tumor no osso ou nas partes moles (próximo aos ossos) e, quando único, é chamado de plasmocitoma. Quando múltiplo, é chamado de mieloma múltiplo. Ambos são considerados tumores malignos.
No Brasil, o Ministério da Saúde não produz estimativas para os casos novos de mieloma na população brasileira. Nos EUA, estimam-se 5 a 6 casos para cada 100 mil habitantes para 2016. No Reino Unido, a taxa de incidência em 2014 foi de 9 casos por 100 mil habitantes. Como a idade avançada é um fator de risco para a doença, é provável que, no Brasil, as taxas de incidência estejam bem abaixo das taxas dos EUA e do Reino Unido. Em 2012, mais de 114 mil casos de mieloma foram diagnosticados em todo o mundo, o que representou 0,8% de todos os cânceres. Os casos de mieloma aumentam com a idade, especialmente a partir dos 55-60 anos e com maior frequência entre 65 e 75 anos. Os casos são mais frequentes na população masculina em relação à feminina.
As evidências sobre os fatores de risco envolvidos no aparecimento do mieloma são limitadas, principalmente por se tratar de uma doença relativamente rara. As exposições ao benzeno, ao óxido de etileno e às radiações ionizantes provavelmente aumentam o risco da doença. O risco é maior nas pessoas com história familiar de mieloma, nos indivíduos com doença de Gaucher, em portadores de algumas doenças autoimunes, como anemia perniciosa e espondilite anquilosante, em indivíduos com excesso de peso e em portadores do vírus HIV.
O mieloma pode ser classificado como sintomático ou assintomático dependendo da presença ou ausência de alterações provocadas pelo mieloma em órgãos ou tecidos. Em geral, nos estágios iniciais, o mieloma não causa sintomas e pode ser suspeitado a partir de um exame de sangue de rotina.
Os sintomas aparecem em razão do aumento dos plasmócitos na medula óssea. Como consequência, há fragilidade dos ossos e deficiência na produção das células sanguíneas habituais, como leucócitos, hemácias e plaquetas. Os dois principais sintomas são dor óssea e cansaço. Em geral, o cansaço é provocado pela anemia, e a dor óssea, pelas lesões líticas. O indivíduo com mieloma pode ser susceptível às infecções e apresentar sangramento anormal na pele (manchas roxas na pele) e mucosa (sangramento nas gengivas).
Quando os ossos são danificados pela doença, uma alta quantidade de cálcio é lançada na circulação sanguínea. Isso é chamado de hipercalcemia e se manifesta clinicamente por sede, cansaço, sonolência e torpor.
Em algumas situações, em especial nas fases avançadas da doença, pode aparecer inchaço nos tornozelos, o que representa algum grau de falência de funcionamento dos rins.
O diagnóstico do mieloma começa pela coleta detalhada de uma história clínica e por um minucioso exame físico. Complementa a avaliação diagnóstica uma rotina de exames laboratoriais (sangue e urina), um exame da medula óssea (biópsia e aspirado), radiografias convencionais de alguns ossos e, eventualmente, ressonância nuclear magnética e TC de localizações específicas.
A presença de elevado número de plasmócitos na medula óssea e de proteínas monoclonais no sangue e na urina ou a presença de plasmocitoma confirmam o diagnóstico. Outros exames adicionais são necessários para completar a avaliação inicial da doença (como dosagem sérica de beta-2 microglobulina, LDH e albumina), além de análise cromossômica de translocações (tipo de exame genético).
Recentemente, em 2014, o Grupo de Trabalho Internacional para mieloma atualizou os critérios para diagnóstico da doença. Os novos critérios permitem um diagnóstico e tratamento mais precoce da doença, antes que ela comprometa órgãos vitais, como os rins. Utilizando-se de resultados de exames laboratoriais, o grupo de trabalho estabelece critérios de diagnóstico para o mieloma múltiplo e outras doenças correlacionadas. Além desse critério de classificação da doença, realiza-se também um estudo sobre alterações cromossômicas nas células do mieloma. Essas alterações influenciam o curso da doença, a resposta ao tratamento e o prognóstico.
Os médicos, em geral, usam o Sistema Internacional para o Estadiamento do Mieloma (ISS). O sistema utiliza o resultado de exames laboratoriais (LDH, beta-2 microglobulina e albumina) e de alterações cromossômicas para classificar os pacientes em três grupos (estágios 1, 2 e 3). Quanto maior o estadiamento, pior o prognóstico.
Os principais tratamentos para o mieloma incluem a quimioterapia, o uso de corticosteroides, a terapia biológica (medicamentos que modificam a forma como as células funcionam) e a radioterapia e o transplante de medula óssea. O tipo de tratamento vai depender do estadiamento da doença, da apresentação ou não dos sintomas pelo paciente e do estado de saúde geral.
Em geral, a sobrevida dos pacientes com mieloma é relativamente longa. A sobrevida depende de fatores relacionados ao paciente, ao estadiamento da doença, à biologia do tumor e à resposta ao tratamento.
Não há recomendações específicas para prevenção e detecção precoce.
Fontes:
1. Multiple Myeloma: Diagnosis and Treatment. Mayo Clin Proc. 2016; 91(1):101-119. http://dx.doi.org/10.1016/j.mayocp.2015.11.007
2. Cancer Research UK home page (http://www.cancerresearchuk.org)
3. National Cancer Institute (NCI) home page (https://www.cancer.gov/)